terça-feira, 14 de agosto de 2007

Entrevista de José Dinis Fernandes - 1965

Revista "Portugal Maior"
Lisboa, Outubro de 1965


Depoimento do Popular Ganadero
José Dinis Fernandes




Falar da Festa Brava da Terceira, implica, naturalmnete que mais não seja por um elemnetar dever de justiça, salientar o nome do popular e estimado ganadero José Dinis Fernandes e falar dos seus toiros bravos e famosos, em todas as freguesias dos dois concelhos.

Criador de gado bravo para a praça e para a corda, desde 1933, impunha-se ouvi-lo dado os seus vastos conhecimnetos e de larga experiência das coisas taurinas terceirenses.

A minha ganadaria foi fundada á mais de trinta anos, embora durante umapequena temporada não me dedicasse á criação de gado bravo, mas a outros negocios.

A sua origem...
Teve começo na ganadaria do senhor José Narciso Parreira Coelho, embora fosse depois, e por varia vezes, refrescada, com sememtais do continente, de diversas providências com Emilio Infante da Câmara, Nordeste Pedroso, Terré & Irmão, José Nechas e Joaquim dos Santos, etc.

Qual a media anual de corridas de praça?
Três .

E de corda?
Podem calcular entre 70 e 80. Ainda no ano passado dei ao todo, entre pagas e gratuitas, 85.

Nomes célebres de alguns toiros da sua ganaderia que tenham marcado pela sua bravura e nobreza?
Posso citar-lhe, que me lembre de momento, no passado: o «Raposo», o «Boné», o «Garraio Velho», o «Gravito», o «Garraio Mulato» e tantos outros; actualmente, posso mencionar o «Chalaça», o «Alfaiate», o «Malhinha», o «Colosso», o «Nechas», o «Celeiro», o «31», o «Gato», o «Vassoura», o «Saiote», o «Raminho», o «Tarimba», o «Leão», o «Tombado», o «Mariazinha», o «Terrorista», o «90», etc.










Toiro GATO









Toiro 90

Sabido que, muitas vezes, os «capinhas» expontâneos excitam os toiros e animam as corridas à corda, pois se deslocam a todas as freguesias, quais os melhores amadores populares que, neste particular, se têm salientado mais?
Antigamente tivemos o «João dos Ovos» (com o seu tradicional e popular «ou morrer ou viver»), o «Rosário», o «Escarcalha», o «Subica», o «Japão», o «José Prosa», o «Chinelo», etc. Presentemente contamos com o «Burra Branca», o «Agostinho», o «Salvador», o «Armando Prosa» e poucos mais…

Qual, actualmente, o melhor toiro da sua ganaderia?
Tenho toiros muito bravos, conhecidos em toda a ilha e gozando de justa fama, mas talvez possa considerar o «Celeiro» (87), como o mais bravo
de todos.










Toiro CELEIRO

Lembra-se da tourada à corda que, em seu entender, tenha resultado no maior êxito para a sua ganaderia?
Algumas não me podem esquecer facilmente e, assim, cito as que dei, nas Lajes, em 1964, e na Feteira, Biscoitos e Altares. Devo dizer-lhe que reservo sempre para a freguesia da Feteira – a minha freguesia natal – os quatro toiros que, no momento, considero os melhores.

O toiro terceirense tem características definidas?
Não, nem as pode ter, uma vez que os sementais importados directamente ou aqui mesmo adquiridos, depois de corridos na praça, têm origens diferentes, pois derivam de «castas» totalmente diversas. Como compreende, cada ganaderia possui seu sangue próprio, um melhor do que o outro…Na minha ganaderia predomina, ainda, o sangue do «Garraio Velho» e do «Garraio Mulato», indiscutivelmente dois toiros bravos e nobres. E que assim é, provam-no os descendentes que ainda hoje existem e se têm notabilizado por essas freguesias fora…

Qual a melhor freguesia da ilha para correr toiros?
Todas as que disponham de terreiros amplos e caminhos macdamizados. As estradas asfaltadas são péssimas, pois fazem o toiro escorregar constantemente, tornando-se, até, perigosas.

Uma última pergunta: As ganaderias terceirenses têm aumentado?
Pelo contrário… Cada ano nascem menos bezerros e os toiros velhos acabam, como é natural, os seus dias no matadouro…Assim, com menos toiros para correr, poderemos estar na espectativa de se realizarem, também, menos touradas à corda.

Retirado do site www.toirosepaixao.com.pt