domingo, 30 de setembro de 2007

O Bovino de Raça Brava na Ilha Terceira

Durante muitos séculos existiu na Europa um bovino selvagem que foi o
precursor de muitas das raças de bovinos domésticos europeus,
denominado auroque.

A origem do auroque parece situar-se nas florestas com clareiras da Índia,
havendo posteriormente migrado para a Europa e Norte de África.

Este animal, com cerca de 260 a 310 cm de comprimento, altura de 180 cm
e peso de 800 a 1000 Kg (com as fêmeas a apresentarem dimensões gerais
inferiores em um quarto às dos machos), apresentava pelagem castanha
escura, com listra clara ao longo do dorso (sendo as fêmeas e crias de cor
mais clara).

A sua extinção acompanhou o percurso da sua migração, ou seja, deu-se
primeiro no Oriente e só depois no Ocidente, tendo aqui ocorrido no primeiro
quartel do século XVII.

Hoje são considerados como seus mais directos representantes os touros
bravos de Portugal, Espanha e Sul de França, o bovino da Córsega, o bovino
das montanhas escocesas e o bovino das estepes húngaras.

Considerando a data do descobrimento dos Açores, a que se seguiu a
introdução dos primeiros animais, designadamente bovinos, com o que se
preparou o subsequente povoamento das ilhas, é de crer que o touro bravo
da Ilha Terceira, bovino de menor compleição do que os seus congéneres de
Portugal continental e Espanha, corresponda, de muito perto, ao primitivo
auroque, do qual é digno descendente.

O touro bravo vive plenamente adaptado à paisagem vulcânica agreste do
interior da Ilha Terceira. A sua menor compleição dever-se-á a tal habitat
natural — o terreno vulcânico mais pedregoso e disponibilizando menores
recursos de alimentação, impróprio para a criação de gado bovino de outras
raças — . Durante séculos sujeito a intempéries, a fracos recursos
forrageiros e a uma menor intervenção humana, o touro da Ilha Terceira
sofreu essencialmente a acção evolutiva da natureza, ao contrário do
acontecido com os animais da península ibérica.

Surgiu assim um animal que, não servindo para as lides de praça, serve e dá
alma à tourada à corda. É, aliás, assumido pela população em geral que o
touro do continente não permite lides de rua com garra e tão vistosas como a
do touro miúdo com origem nos primeiros animais trazidos pelos povoadores
destas ilhas.

Por esse motivo, por ser uma variante da raça de bovino bravo que se pode
considerar autóctone dos Açores (e, em particular, da Ilha Terceira), existem
motivos de sobra para que o açoriano se orgulhe do seu touro bravo que,
pela sua natureza, corresponde ao bovino ideal para participar numa
manifestação de cariz tão popular como é a tourada à corda. Esta última,
demais a mais, no estabelecimento da sua organização e respectiva
evolução, teve que considerar a natureza do seu interveniente mor — o touro